Jornalista esportiva Érica Prado criou uma conta no Instagram para dar visibilidade às atletas
Nas ondas: Érica Prado e Laiz e Yanca Costa Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Os olhos de Érica Prado ficam marejados diante da imensidão do mar. A moça é invadida por uma onda gigantesca de sentimentos. Ex-surfista profissional e jornalista esportiva, a carioca se emociona ao relembrar as dificuldades que enfrentou para viver o seu sonho. “Em Itacaré (município baiano onde cresceu) , pedia ajuda aos comerciantes para bancar os custos das competições.
Quando estava na água, minha preocupação era não perder num primeiro momento. Precisava dar uma alegria para as pessoas que acreditavam em mim”, diz. “O duro era ser forte quando a cabeça não estava legal. A falta do patrocínio mexe com o atleta, sabe? Ficava 48 horas na estrada, dormindo em rodoviária e economizando no almoço para comer algo no jantar. Batia uma insegurança na hora da disputa”, comenta Érica, que criou a página @surfistasnegras, no Instagram, para dar visibilidade a meninas como ela. “Precisamos de um movimento para mostrar essas garotas. Quem é visto é lembrado. É importante ocuparmos espaços, servimos de espelho.”
Lançado no meio virtual em maio, o perfil já alcançou gente interessada em investir de alguma maneira nesses talentos. “Consegui pranchas para uma surfista e óculos escuros para outras. Ainda é pequeno, mas fiquei feliz com a mobilização”, comemora a jornalista.
A alagoana Karina Barbosa, conhecida no meio como Brigadeiro (“Fui apelidada assim por ser pretinha e doce”, conta), hoje não está mais na água, mas acompanha de perto os passos de Sofia Tinoco, sua filha de 10 anos, no esporte. “Nem todo mundo quer ser um atleta brasileiro nessa realidade em que vivemos Invisto uma grana para minha filha competir. Vendo a alma e os móveis da casa para ela não ficar de fora”, entrega Brigadeiro. “Sofia escolheu estar ali, não era meu desejo. Deixo claro que a vida de surfista profissional não é moleza.”
Natural de Fortaleza, Yanca Costa, de 19 anos, desponta como nome forte no cenário. Recentemente, venceu na abertura do Circuito Brasileiro de Surf Feminino, em Ubatuba, na categoria pro-adulto. “Agora, estou fazendo uma vaquinha on-line para custear uma estadia de dois meses no Havaí, no fim do ano. Minha ideia é usar esse tempo para treinar. Mas não tenho medo de trabalho”, diz Yanca. “Também morei no estado americano e fazia faxina e lavava muita roupa para complementar a renda. De modo geral, se a situação da mulher no esporte é complicada, a da mulher negra é ainda mais dramática”, acrescenta Brigadeiro.
Que venham as próximas ondas.